
Ontem, no dia 01/09, Paulo Guedes em audiência pública com a comissão mista do Congresso que acompanha as ações do governo no combate à pandemia, declarou que o aumento real do salário mínimo “condenaria as pessoas ao desemprego” e que era necessário tomar cuidado com a hora de fazer este reajuste.
Guedes argumenta que o governo está “quebrado” e que “o salário mínimo, que era um instrumento de proteção do trabalhador do mercado formal, acabou virando base inclusive para reajuste. Uma pessoa que ganhava R$ 30 mil, por exemplo, de aposentadoria, quando você mexia no salário mínimo, você tinha que empurrar também toda essa estrutura para cima. Você estimula a desigualdade”
É uma demonstração muito “afetuosa” de preocupação pelo trabalhador. Só que não. E mostraremos o por quê.
Guedes parte da lógica que o aumento real do salário mínimo provocaria um efeito em cascata onde todos os mecanismos cujos valores se baseiam no mesmo – benefícios como aposentadoria, e faixas de salário de servidores públicos – aumentariam em igual proporção, fazendo com que um funcionário que recebesse 20 salários mínimos recebesse 20 vezes o aumento de um funcionário que recebe 1 salário.
No entanto, essa premissa é falsa e não tem lastro na realidade. Primeiro porque a indexação por salário mínimo é proibida pela Constituição. E depois por que não se corrige salário de servidor ou de ninguém pelo índice de correção do salário mínimo há bastante tempo.
Quando o salário mínimo passou pelo período de valorização no início do século, com um cálculo de reajuste específico, esse cálculo não era utilizado para reajustar outros salários, nem mesmo aposentadorias.
Algumas poucas categorias da chamada “elite do funcionalismo” tiveram, sim, reajustes muito altos em determinado período recente, mas nada relacionado ao cálculo do salário mínimo, e sim a uma política de valorização de determinadas carreiras em detrimento de outras, e isso merece ser estudado em detalhes.
O Guedes é raposa velha. Finge que é Robin Hood mas na verdade só faz o trabalho do Sheriff de Sherwood — tira do remediado, diz que é pra ajudar o pobre, mas entrega tudo aos donos do poder, sempre dizendo que vai tirar algo desses também.
Esse é mais um episódio de sua cruzada contra o salário mínimo e o funcionalismo público, coisas que para ele nem deveriam existir.
O argumento do Guedes é sempre o emprego. Desde Temer a “preocupação” com o emprego é usada para justificar medidas antipopulares. A famigerada geração de emprego justificou perdas de direitos trabalhistas, mas até agora nada. Quase treze milhões já estão condenados ao desemprego e muito mais ao desalento… Paulo Guedes não pensa em povo e em pobre… Talvez nem saiba se tratar de gente.