Lula usou seu canal no YouTube para fazer um pronunciamento, bem ao estilo dos que costumava fazer sob a direção de Duda Mendonça. Em pelo dia da Independência Nacional.
Nele, o ex-presidente recupera boa parte do discurso do PT desde a saída do poder de Dilma Roussef, em maio de 2016. Segundo ele, a queda do PT e sua prisão teria se dado por um conluio das elites com setores do Legislativo e Judiciário, incomodados com a melhoria das condições de vida do grosso da população experimentada nos treze anos de governos petistas. Além disso, ainda cita, rapidamente, a participação de órgãos de inteligência dos EUA em todo o processo.
Menciona, de maneira igualmente rápida, a necessidade de se romper com o Teto de Gastos, imposto pela Emenda Constitucional 95, no Governo Temer. Mas não se manifesta por aquilo que o PORTAL RUBEM GONZALEZ e o JORNAL PURO SANGUE vêm denunciando há tempos: o processo acelerado de desnacionalização da economia nacional. Seja pelo desmonte da Petrobras e outras modalidades de “privatização branca”, que consiste na venda de ativos das estatais, sem que elas passem por leilões, amparados por decisões do STF.
No entanto, Lula não foi tão parcimonioso na hora de glosar sobre a nova moda do momento, o Movimento Black Lives Matter. “Quantos George Floyds não podem existir pelo Brasil?”, pergunta-se ele, em respeito ao estadunidense morto em uma abordagem policial, gerando toda uma cadeia de protestos naquele país. Ao mesmo tempo que propõe um “pacto social” para reconstruir o país, o ex-presidente faz uma indireta para as forças de segurança brasileiras, potencialmente assassinas de vidas negras. Talvez prefira deixar boa parte desse eleitorado nas mãos de Bolsonaro e sua família, apesar de os comandos das PMs serem a base de imensas redes de comitês de campanha pelo Brasil todo.
Igualmente, reforça o discurso que políticos europeus vêm fazendo a respeito da Amazônia e das terras indígenas, como se todas as nossas reservas ambientais e indígenas estivessem prestes a ser devastadas por grileiros e garimpeiros. Acreditamos que falta diálogo dele com o antigo aliado Aldo Rebelo, um grande quadro e conhecedor da causa que poderia evitar alguns equívocos não dignos de um ex-presidente.
Lula parece, em seu discurso, fazer o papel de militante e não de ex-chefe de Estado. Se houve participação dos EUA na derrubada de Dilma, e estamos aqui convictos de que houve, é preciso assumir a responsabilidade do PT em deixar que isso acontecesse e pela pífia reação que vem demonstrando desde então. O “pacto social” que ele propõe deve se erigir em nome da soberania nacional, condição sine qua non para que possamos melhorar o bem estar do povo e desenvolver políticas sociais de peso.
Um “pacto social pelo bem-estar social” precisa envolver não só a Esquerda, mas mais setores sociais, incluindo os militares e também as “elites” a quem Lula se refere. Falamos aqui dos mesmos setores sociais que foram beneficiados em seu governo e contribuíram para o crescimento econômico experimentado em seu governo. O bem-estar do nosso povo passa pelo fortalecimento do capital nacional, seja ele público ou privado. O pacto que queremos não cabe no horizonte da “Internacional Progressista” de Bernie Sanders, à qual Haddad quer se filiar.