1 thought on “Editorial Jornal Puro Sangue – 7 de setembro

  1. “Fundações criam fundo Marielle Franco para incentivar mulheres negras que buscam liderança política.

    Em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco, a Fundação Ford, a Open Society Foundations e o Instituto Ibirapitanga anunciaram a criação de um fundo para incentivar e apoiar as mulheres negras que aspiram à liderança política no Brasil. Com a doação de US$ 3 milhões ao Fundo Baobá, instituição dedicada à luta pela igualdade racial no Brasil, a iniciativa se baseia no trabalho da vereadora para ampliar a voz das mulheres negras e seu acesso ao poder no Brasil.”

    https://www.geledes.org.br/fundacoes-criam-fundo-marielle-franco-para-incentivar-mulheres-negras-que-buscam-lideranca-politica/

    Abri esse artigo com essa notícia publicada no site Geledés Instituto da Mulher Negra, um dos principais representantes do movimento negro burguês brasileiro e uma das instituições ligadas à esquerda neoliberal, que recebe fundos da Fundação Ford e da Open Society (de propriedade do especulador George Soros), para deixar claro que nada do que eu vou escrever aqui é “teoria da conspiração” – termo criado pela CIA para desqualificar como malucos aqueles que apontam os esquemas das elites mundiais para saquear os trabalhadores do mundo.

    A verdade é que muitos grupos e ídolos da esquerda brasileira recebem dinheiro de fundações que foram responsáveis por financiar a eugenia nos EUA na década de 30 – com esterilizações de negros, europeus do Sul, deficientes físicos e mentais – e o anti- comunismo durante a Guerra Fria, como a própria Fundação Ford, a Fundação Rockefeller e a Fundação Kellogg. Outra grande financiadora da esquerda burguesa brasileira é a Open Society, criada em 1993 com o principal objetivo “de influenciar o processo de reorganização dos Estados que resultavam da dissolução da URSS, promove pautas diretamente vinculadas à agenda do neoliberalismo, como a desvinculação entre o Estado e as áreas sociais”(COITINHO, 2018). Entre os financiados por essas instituições ligadas ao imperialismo norte americano estão Leonardo Sakamoto, A Pública, Geledés, Edward Eric Telles (cujo livro, Racismo à Brasileira, foi publicado pela Fundação Ford), Mídia Ninja, Coletivo Fora do Eixo. Novamente postos alguns links para deixar claro que nem mesmo essa pseudo-esquerda burguesa nega esse fato

    https://apublica.org/2018/05/noticias-falsas-sobre-a-agencia-publica/
    https://www.geledes.org.br/a-fundacao-kellogg-no-brasil/
    https://www.geledes.org.br/fundacao-ford-celebra-os-50-anos-na-america-latina/

    QUANDO CORPORAÇÕES FINANCIAM O ATIVISMO SOCIAL

    Em recentes documentos vazados da Open Society Foundation de George Soros e disponíveis na Internet, o “coletivo” Mídia Ninja recebeu dessa fundação, apenas no último ano (de agosto de 2015 a agosto de 2016), o valor de US$ 80 mil (R$ 250.000,00). Outras instituições brasileiras também receberam financiamento de George Soros, como o Instituto Fernando Henrique Cardoso (R$ 350.000,00), a Actantes – Ação Direta pela Liberdade, Privacidade e Diversidade na Rede (R$ 190.000,00), a Casa Fluminense (R$ 640.000,00), o Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS) / Mudamos.org (R$ 1.100.000,00) e a Rede Nossa São Paulo (R$ 1.600.000,00). A maioria dessas instituições também foi financiada pela Ford Foundation no mesmo período.”

    https://passapalavra.info/2016/09/109422/

    Sobre a Fundação Ford

    https://esquerdaonline.com.br/2016/12/10/discutindo-a-fundacao-ford-parte-1-de-4/

    https://esquerdaonline.com.br/2016/12/13/discutindo-a-fundacao-ford-parte-2-de-4/

    https://esquerdaonline.com.br/2016/12/22/discutindo-a-fundacao-ford-parte-3-de-4/

    https://esquerdaonline.com.br/2017/01/22/discutindo-a-fundacao-ford-parte-4-de-4/

    Na verdade, a própria ideia de ONG nasceu do neoliberalismo, pois, a ideia por detrás das mesmas é que o Estado deve deixar de ser o garantidor do bem-estar da população e essa tarefa deveria ser assumida por entidades privadas, as quais deveriam receber financiamento por meio de suas próprias forças – de preferência atendendo aos interesses dos grandes grupos corporativos do mundo Anglo-Saxão:

    “A propaganda ideológica gira em torno do “engajamento” da sociedade civil na solução de problemas comunitários e assistência social, propagando a ideia de que o Estado é ineficiente e, portanto, deve retirar-se dessas áreas. Dessa maneira, difunde-se a ideia de que espaços de atuação “naturalmente” vinculados aos orçamentos estatais, como a educação, seriam mais eficientes se fossem incorporadas às leis do mercado – o que implica em privatizações. As novas lideranças apresentam-se a partir de uma agenda de temas progressistas, como as pautas identitárias, de gênero de meio ambiente, valores democráticos etc., desvinculada de suas raízes estruturais. Assim dissolvido, o discurso progressista passa a ser plenamente compatível com os preceitos do neoliberalismo, reduzindo-se a um ativismo atomizado, que não denuncia os nexos entre as opressões ou a destruição do meio ambiente e a vigência de um sistema econômico predatório e irracional.” (COITINHO, 2018)

    Sabemos que muitos grupos de extrema-direita dos Estados Unidos e Europa também denunciam esse financiamento da esquerda mundial por parte de grandes grupos como o Open Society de Soros. Contudo, apesar deles estarem certos a respeito da realidade desse financiamento, eles estão completamente errados em relação às razões pelas quais esse financiamento ocorre. Afinal, alguém pode estar certo em relação ao fato da realidade ser x, mas pode estar errado em relação ao fato dela ser causada por y e não por z.

    Segundo os neonazistas euro-americanos, o motivo pelo qual bilionários como Soros estariam jogando dinheiro em movimentos de esquerda ligados ao identitarismo, a ONGs financiadoras das chamadas Revoluções Coloridas nos países da ex-URSS e Oriente Médio-Norte da África e em partidos como o Democrata dos EUA seria porque os judeus do mundo, que seriam os verdadeiros puxadores de corda por detrás do funcionamento do sistema capitalista neoliberal financista, odeiam os brancos do mundo – e na categoria “brancos” usada por essa gente não estariam incluídos os auto-declarados brancos da América-Latina, claro – odeiam a chamada “cultura Ocidental”, e estariam, por essa razão, usando todo seu poder para por em prática o “genocídio branco” e a destruição dos valores tradicionais ocidentais (seja lá o que isso signifique além de “ser branco”) por meio de “degeneração marxista cultural” e da “importação de milhões de miscigenados, marrons, asiáticos e pretos do Terceiro Mundo para os EUA e Europa”.

    Claro que esse argumento é muito parecido com aquele usado por Adolf Hitler para falar sobre judeus, marxismo, degeneração dos valores alemães tradicionais, degradação da sociedade alemã e do judeu banqueiro especulador como bode-expiatório. Contudo, apesar desses “alt-rights” estarem errados sobre as razões pelas quais o financiamento de uma esquerda burguesa vir de magnatas especuladores, eles não estão errados sobre o fato desse financiamento realmente ocorrer. Eles entendem o fenômeno, mas não entendem as causas do fenômeno (seria como soltar uma caneta e dizer “ela vai cair quando eu soltá-la” – o que é correto – mas justificar a razão da queda como “ela vai cair porque objetos buscam seu lugar natural no centro da terra”, como dizia Aristóteles, está errado).

    O principal motivo pelo qual essa esquerda burguesa é tão estimada por bilionários é que ela apoia o “faça você mesmo”, a organização horizontal, o “tome a iniciativa e mude sua vida”, o “seja flexível e se adapte aos novos desafios”, próprios da sociedade da uberização e precarização do trabalho. Claro, anarquistas de esquerda defendem uma sociedade horizontal, sem autoridades, onde todos se responsabilizam pelo mundo e pela sociedade. Mas os anarquistas de esquerda também defendem o fim do imperialismo, das grandes corporações, da mercantilização da vida e do mundo, da produção material voltada para o mercado e para o lucro, da propriedade privada dos meios de produção, etc. Um anarquista de esquerda nunca faria como um desses representantes da esquerda burguesa chamando trabalhadores obrigados a vender sua força de trabalho para não morrerem de fome e terem de ir para debaixo da ponte de “privilegiados” simplesmente por terem a pele mais clara ou serem heterossexuais. O privilegiado é o burguês, que tem o poder de vida ou morte sobre aqueles sob seu comando, pois, com uma canetada, pode enviar um pai de família para a rua da amargura, miséria e marginalização social. Claro, sabemos que existem trabalhadores em melhores condições do que outros, mas todos estão subordinados à vontade do burguês e às oscilações do mercado de trabalho. Ainda mais num país como o Brasil, onde entre 80% e 90% da população seriam considerados como pessoas abaixo da linha da pobreza nos Estados Unidos. A verdade é que chamar trabalhador de “privilegiado” num país onde a esmagadora maioria tem uma renda baixa é um disparate, uma falta de vergonha na cara.

    Mas devemos lembrar que esse movimento da esquerda burguesa é basicamente um movimento de classe média alta ligada a ONGs e diretórios acadêmicos. E, por ser um movimento de classe média alta, ele precisa apagar a existência das classes sociais, do trabalhador e do burguês, daquele que compra a força de trabalho e daquele que não tem nada mais a vender do que sua carcaça cansada numa batalha diária para não se tornar mais um marginalizado social nas ruas das grandes cidades.

    O que existe agora é o negro, o asiático, o branco, a mulher, o gay, a lésbica, o gordo, o magro, etc. E, segundo essa esquerda burguesa, uma mulher como a bilionária Maria Franca Fissolo e uma operária boliviana trabalhando sob condições precárias numa fábrica de roupas de São Paulo são igualmente mulheres e devem compartilhar da sororidade. Segundo a esquerda da CIA, ambas seriam socialmente iguais porque seriam ambas mulheres e, por isso, seriam ambas igualmente oprimidas pelo sistema, cujo problema principal não é ser um sistema baseado na exploração econômica e que, por isso, precisa necessariamente de grupos subalternos, mas sim, teria como principal problema a maldade no coração dos homens, que querem oprimir as mulheres porque seriam moralmente ruins.

    Ou seja, um problema como o machismo, ligado ao funcionamento estrutural do sistema capitalista, se torna um problema puramente moral, como se o mundo fosse uma batalha entre pessoas puras e morais contra pessoas ruins, de coração sujo e imorais. Como se fosse um filme de ação Hollywoodiano voltado para crianças de 12 anos ou adultos infantilizados. Existiria uma batalha entre o bem e o mal no mundo e é isso. A compreensão das complexidades do sistema e dos próprios seres humanos seria substituída por uma narrativa moralista de luz contra trevas.

    Isso significa que um dos conceitos centrais dessa esquerda burguesa é o conceito de “sofrência”. Ou seja, o mais puro e moralmente superior seria aquele grupo que mais sofre. Como se fosse um tema religioso trazido para o mundo laico, a ideia é que existiriam grupos que sofreriam mais do que outros e esses, por sua vez, sofreriam mais do que outros e esses, por sua vez, sofreriam mais do que outros e assim por diante. Quanto mais sofrimento, maior a elevação moral dos membros do grupo sofredor. E quanto maior a elevação moral, mais admirados e beatificados devem ser os membros do grupo que sofre. Novamente os problemas estruturais do sistema capitalista são esquecidos em nome de uma leitura subjetivista e moralista da realidade social. Mas, ora essa, o grande problema do capitalismo não é que pessoas sofram sob esse sistema, afinal, nunca houve sistema social em que não houvesse pessoas que sofressem – mesmo no comunistarismo primitivo velhos, doentes e aqueles que haviam transgredido as regras comunitárias eram deixados para morrer, espancados ou mortos. O problema do capitalismo é que ele é objetivamente irracional, causador de crises sociais e econômicas terríveis. A crítica ao capitalismo não pode se reduzir a uma crítica moralista e subjetivista do tipo “eu sou sofredor”.

    E aqui chegamos ao movimento negro burguês brasileiro. Para poder aplicar essa leitura dicotômica de heróis sofredores e moralmente superiores e vilões que fazem sofrer por seres moralmente corrompidos, ele precisa reduzir a multiplicidade que sempre marcou a paisagem racial brasileira à dicotomia negro X branco própria da sociedade anglo- americana. Sim, eu sei que, no limite, por volta de 85% dos brasileiros são basicamente uma mistura de ibéricos, negros e indígenas como qualquer país latino-americano, mas não estou aqui falando de definições ligadas a marcadores genéticos ou ancestralidade e sim estou falando da maneira pela qual o brasileiro sempre se enxergou. Basta analisar os antigos censos que podemos perceber que as pessoas se viam como “chocolate”, “café- com-leite”, “moreninho”, “branco amarelado”, “branco leite”, “cor-de-bombom”, “bege”, “moreno claro”, “moreno escuro”, “negro”, “pretinho”, “branco”, “japonês”, “meio-índio”, etc. Ainda hoje a maioria responde ao censo com essas definições, mas o censor, fechado na tentativa do Estado de cada vez mais reduzir as categorias raciais brasileiras e fechá- las em definições que não fazem o menor sentido para a maioria dos brasileiros, tem de obrigar a pessoa a responder “branco”, “pardo”, “negro”, “amarelo”, “indígena”.

    O pai dessa importação da dicotomia americana negro X branco para o contexto brasileiro é um ex-integralista chamado Abdias do Nascimento, casado com uma loira de olhos claros dos Estados Unidos chamada Elisa Larkin. Abdias, um apaixonado pelos Estados Unidos, escreveu um livro sobre o genocídio do negro brasileiro. Nesse livro, ele basicamente nos diz que a miscigenação seria uma espécie de genocídio e violência quando o homem fosse branco e a mulher fosse negra. Claro que isso só se aplica a homens brancos e mulheres negras, pois, no maior estilo “a mulher é propriedade do homem”, o homem negro seria livre para se casar com brancas, como ele mesmo o fez.

    E aqui está o grande problema: essa dicotomia apaga a figura do mestiço, que sempre existiu na imaginação social do brasileiro. Isso ocorre porque nos Estados Unidos, país de origem das ideias de Abdias do Nascimento, o mestiço nunca existiu de um ponto de vista jurídico. E, como as relações raciais jurídicas determinaram o funcionamento da estrutura social estadunidense, o mestiço também nunca existiu do ponto de vista social. Nos Estados Unidos ou se é branco, ou se é preto. Não existe nada no meio. Mas claro que tentar fechar pessoas em categorias raciais determinadas e essencialistas como sempre se desejou nos Estados Unidos – e agora o movimento negro burguês quer fazer no Brasil – é extremamente difícil, afinal, sempre se pode perguntar: O que é branco? O quanto uma pessoa precisa ser clara para ser branca? A pele tem de ser rosada ou pode ser meio amarelada? E se a pele for cor-de-oliva? E a cor dos olhos? Precisam ser claros ou podem ser negros? Os cabelos podem ser negros ou têm de ser loiros? Podem ser castanhos? O formato do nariz, como ele precisa ser para ser um nariz de branco? Ele pode ser largo? Tem de ser fino? E se for adunco? E o formato do rosto? Precisa ser retangular ou pode ser arredondado? E o formato dos olhos? Olhos amendoados ou meio puxados podem ser considerados olhos de branco? E o formato das bochechas? E o formato do crânio? O crânio sempre foi importante para teorias eugenistas de determinação racial. Ele tem de ser o quanto alongado para ser um crânio de branco? Pode ser meio ovóide? E a ancestralidade? Italianos são brancos? E árabes? Se a pessoa tem sangue espanhol, ela é branca?

    Os mesmos questionamentos podem se aplicar à definição de negritude: O quanto uma pessa precisa ser escura para ser negra? E o fenótipo? O formato do nariz, dos olhos, dos lábios, do crânio, etc. Qual o fenótipo negro?

    Os norte americanos encontraram uma solução que eles passaram a ver como objetiva e sem discussões para decidir se uma pessoa seria negra: quem tem sangue africano, é negro. Quem tem uma gota de sangue africano é negro e precisa ser colocado em quarentena em guetos. Solução bem racista diga-se de passagem, pois via o sangue africano como se fosse uma espécie de contaminação que precisava ser contida para não sujar os anglo-saxões. Isso gerou bizarrices como Walter Francis White, um loiro de olhos claros e pele rosada, que, por ter duas ou três trisavós negras passou a ser negro do ponto de vista jurídico e se tornou secretário executivo da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor. O homem era tão branco que um brasileiro que o visse na rua pensaria se tratar de um turista holandês. E eu pergunto: é isso que o movimento negro burguês quer para o Brasil? A One Drop Rule? Justo agora que os mestiços norte americanos cansaram disso e exigem que se crie a categoria racial “mixed” no censo estadunidense. Uma loucura tão grande que, em 1985, uma mulher foi impedida de se declarar branca em seu passaporte na Lousiana por ter uma única pentavó africana? É isso que se deseja para o nosso país? (https://www.academia.edu/12152803/Bury_The_One-Drop_Rule_)

    Sim, muitos ativistas do movimento negro burguês dirão que o One Drop Rule nunca será adotado no Brasil, pois não tem relação alguma com nossas tradições racias. Mas então, pergunto eu, por que adotar a dicotomia negro X branco? Ela por acaso tem sentido dentro da história das relações raciais brasileiras? Não, não tem. É uma tentativa de imposição do movimento negro burguês brasileiro. Uma tentativa condenada ao fracasso, pois nosso povo nunca a aceitou e, provavelmente, nunca a irá aceitar. Além disso, se for adotada, como decidiremos quem é negro por aqui? A One Drop Rule seria impossível, pois, caso contrário, entre 85% e 90% da população brasileira teria de ser considerada negra (Pena, 2004). Vão instituir tribunais para julgar quem pode se considerar negro? Vão fazer estudos eugenistas ligados a grossura dos lábios, textura dos cabelos, formato do nariz, formato do crânio? Vão chamar aqueles que não quiserem se definir como negros de traidores? Vai começar a caça às bruxas? Num país onde menos de 17% da população tem ancestralidade europeia recente segundo estudos de Giorgio Mortara, como vai se decidir quem é branco? O Brasil recebeu 10 vezes mais africanos e 8 vezes menos europeus do que os Estados Unidos. No Brasil, nunca foi ilegal a relação sexual entre negros e brancos, ao contrário dos EUA, que adotaram a ilegalidade das relações interraciais desde 1697 em Maryland e só a revogou na década de 70 após o caso Mildred Jeter Loving vs. Virginia (https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/morre-nos-euamildred-jeter-loving-pioneira-do-casamento-interracial/n1237680600396.html). Por que querem adotar um modelo de definição racial essencialista e dicotômico nascido nos Estados Unidos, onde a miscigenação sempre foi proibida e uma gosta de sangue africano faz de alguém negro?

    Para terminar, gostaria de dizer que, antes de me acusarem de não ter “vivência”, gostaria de dizer que não aceito esse conceito, pois se trata de uma modalidade de falácia ad hominem, onde se tenta chamar a atenção para a argumentadora em vez do argumento que está sendo apresentado. Chamar a atenção para as características pessoais de alguém em vez de tentar refutar seus argumentos chama-se falácia de ataque pessoal. Sim, eu sei que o tal “lugar de fala” anda na moda entre a esquerda burguesa. Mas, sinto muito, falácias não são aceitas por mim. Se alguém não gostou de algo que escrevi, por favor, ataque os argumentos que eu levantei e expus, não ataque minha pessoa, não diga que minhas características pessoais desqualificam meus argumentos, não me venham com “ela não ocupa a posição social x”. Desculpe, mas não aceito ad hominem para tentar me refutar.

    E não, eu não estou negando que exista racismo no Brasil. Não, eu não estou dizendo que pessoas com fenótipo mais ligado ao Oeste Africano e cor de pele escura não sofram maior discriminação pela sociedade. Só estou dizendo que não aceito que esse tema seja tratado por meio do olhar de um movimento negro que segue uma agenda burguesa. Que não deseja acabar com o capitalismo, mas que apenas quer que o Brasil tenha uma classe média alta e uma burguesia de pele escura, como acontece com a África do Sul e mesmo com os Estados Unidos. Que não dá a mínima se a grande maioria dos negros, brancos, asiáticos, indígenas, indianos, mestiços (sim, eles existem) ainda serão trabalhadores sem acesso aos meios de produção e dependentes da canetada do patrão para não morrerem de fome. Por fim, gostaria de deixar essa citação de Antônio Risério, cujo livro eu recomendo (e que não pode ser desqualificado com argumentos chulos do tipo “ele é branco e por isso não pode falar sobre x”)

    “Não devemos desconhecer a realidade em que nos movemos. Não devemos ceder à tentação das fantasias fáceis, dos truques ideológicos, dos artifícios jurídicos, dos maniqueísmos simplificadores. Não devemos nos contentar com a transposição mecânica, para a realidade sociorracial brasileira, de discurso político-acadêmico em vigor nos EUA, cujas história, formação e situação são radicalmente dessemelhantes da nossa experiência como povo e nação. Pelo contrário: temos de recusar o imperialismo cultural norte-americano, que pretende universalizar os seus modelos e os seus particularismos. E temos de partir de nós mesmos. É por isso que insisto que não temos nenhuma forte razão para substituir o rico espectro cromático brasileiro pelo rígido padrão racial norte-americano – ainda mais que, nos EUA, cresce a mobilização em favor do reconhecimento social da existência de mestiços, com um número cada vez maior de pessoas reivindicando a inclusão da categoria mixed-race no censo (e no senso) da nação. De outra parte, acho que não devemos perder muito tempo fazendo essas comparações. Esclareçamos as coisas básicas e, depois, o melhor é deixar os EUA de lado – e nos concentrarmos em nossos muitos e urgentes problemas. Mas o certo é que ninguém vai entender o Brasil se não encarar, em toda a sua abrangência e complexidade, os fenômenos fundamentais da mestiçagem e do sincretismo” (Risério, 2007, 411)

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