A escola física com aulas presenciais, que todos nós frequentamos, foi organizada para preparar as crianças e os adolescentes para um mundo do trabalho como definido pelo industrialismo, com fábricas e escritórios sendo o padrão. Uma vez que o industrialismo desaparece do hemisfério ocidental e o mundo do trabalho reorganiza-se no “informatismo”, com um distanciamento físico entre as pessoas inédito na História e com uma indiferenciação cada vez maior entre casa e trabalho, a tendência é que a escola também seja redesenhada e o ensino a distância torne-se regra, para preparar as crianças e os adolescentes para um mundo do trabalho igualmente a distância.
Isso, claro, considerando o universo social da classe média, ou pouco que restar dela, para cima, que ocupará os poucos postos de trabalho online disponíveis. Em um país como o Brasil, governado por grupos cujo projeto é tornar o país mera reserva de matérias-primas e commodities para os centros industriais e financeiros do mundo, a escola, seja ela presencial ou remota, torna-se absolutamente desnecessária para a esmagadora maioria da sociedade, incluindo a maioria dos descendentes da classe média, rebaixados ao nível de lumpensinato*. Para dirigir Uber, entregar Ifood ou viver encostado numa renda básica, não precisa de escola. O ideal e a realidade da escola como um serviço disponível a todos nasceram com a Era Vargas e estão morrendo com ela.
Enfim, a retomada das escolas presenciais não depende de tal ou qual governador e prefeito, mas da retomada dos princípios de organização nacional que despontaram a partir de 1930: a soberania nacional, a industrialização autônoma, o pleno-emprego, os direitos trabalhistas e sociais, a casa própria e o lazer semanal como espaços existenciais à parte do trabalho.
Por Felipe Quintas
* Lumpesinato: Segundo Karl Marx, trata-se do segmento mais desorganizado da classe trabalhadora, que vive de bicos esporádicos e atividades menos nobres como cafetinagem, prostituição e informantes da polícia – os famosos X9.