[pl_row pagelayer-id=”mohzlgyqdaw52v08″ 0=””]
[pl_col pagelayer-id=”pfah2xy4k15oz9nk” col=”12″]
[pl_text pagelayer-id=”k2tsdypfx8b9k76n” 0=””]
Por Pedro Augusto Pinho.
Não sei de outras terras, vou somente falar daquela onde nasci. Parece que de todas as influências formadoras, dos indígenas que nominaram boa parte do país e que nos legaram o amor à natureza, dos africanos que chegaram pela violência e nos legaram sua rica cultura das mais antigas da humanidade, ficou mais forte para o brasileiro um incrível sebastianismo, legado dos portugueses. Estamos sempre aguardando um salvador.
Não nos imaginamos capazes de solucionar nossos problemas, de acreditar na união nacional, precisamos ser, nós os brasileiros, um povo que deve estar sempre demonstrando para si mesmo a capacidade que, desconfortavelmente, o mundo até nos reconhece, nas artes e nas ciências. Somos a nação que desenvolveu uma tecnologia aeroespacial, premiada pela exploração e produção de petróleo no mar, das pouquíssimas que atingiu o estado da arte na informática, e, em elevadíssimo grau, o saber da produção agrícola. Mas não soubemos levantar um dedo para defender nosso desenvolvimento, nossa terra, nossa riqueza natural da gula dos flibusteiros.
Nesta trajetória de Ernesto Geisel procurei destacar os aspectos nacionalistas do militar e do político. Poderia, no lado oposto das ideologias, escrever quase o mesmo sobre Leonel Brizola, político corajoso, honesto e nacionalista à esquerda. Na demonstração que nacionalismo existe à direita e à esquerda do espectro político, só não existe entre os neoliberais, pois estes são irremediavelmente entreguistas.
“Durante trezentos anos”, nos ensina Arthur César Ferreira Reis (“As Escolas de Direito na Formação da Cultura Brasileira”, in Revista Brasileira de Cultura, Ano II, número 3, jan/mar 1970), “os que aqui nasceram ou os que aqui vieram para partilhar conosco das venturas e desventuras do dia a dia estiveram submetidos à regulamentação legal do direito português. Esse direito tomara corpo na codificação Afonsina, Manuelina e, por fim, Filipina”. Teria a legislação estrangeira, que avançou em nossa república, nos influenciado a tal ponto que ainda hoje, no século XXI, por 500 anos nos faça sebastianista, nos impeça empreender a ação popular, a ação nacionalista?
Embora seja a cultura nacional o elemento mais importante, não é possível deixar de examinar a economia. Principalmente no país que a elegeu como o mais relevante aspecto da administração pública.
E para esta análise, a figura do ministro Severo Fagundes Gomes (10/8/1924–12/10/1992) é muito importante. Foi ministro da Agricultura no governo entreguista de Castelo Branco e da Indústria e Comércio com Geisel, rompendo com este presidente e deixando o Ministério após quase três anos, em 8 de fevereiro de 1977.
Severo Gomes, rico empresário brasileiro, assinou, com outros sete colegas da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) – Antônio Ermírio de Moraes (Votorantim), Cláudio Bardella, Jorge Gerdau, José Mindlin (Metal Leve), Laerte Setubal Filho (Itausa), Paulo Vellinho (Springer-Admiral) e Paulo Villares – o “Manifesto dos Oito” (julho de 1978), publicado no jornal Gazeta Mercantil.
O jornalista Roberto Amaral Vieira, no artigo “A crise e a crítica ao modelo” (17/11/1975) (in Crônica dos Anos Geisel, Forense, RJ, 1987), enumera as críticas de Severo Gomes no parágrafo que, a seguir, transcrevo:
“A existência de distúrbios estruturais é admitida claramente pelo ministro quando arrola as características presentes da economia brasileira: a) concentração da renda nacional; b) existência de desigualdades sociais e regionais; c) dependência da economia externa; d) enfraquecimento do empresariado privado nacional; e) desordenada concentração dos grandes centros urbanos; f) atraso em setores fundamentais de bens de capital e insumos básicos; e g) atraso tecnológico do parque industrial”.
Somando o aspecto institucional, da análise de Arthur Reis, ao pragmático do empresário Severo Gomes, só nos falta incluir, do conjunto que o poder utiliza para justificar seus desatinos, a educação. E a tomaremos da excelente análise do jornalista e editor René Capriles, em Makarenko O nascimento da pedagogia socialista (Editora Scipione, SP, 1989): “Até seu fim, o império russo dos tzares teve nas escolas paroquiais seu principal meio de ensino e doutrinação”.
E que dizer de nossa Pátria, onde Tomé de Souza, que estruturou o estado colonial brasileiro, entregou o ensino e a comunicação à ordem católica de Manoel da Nóbrega, a Companhia de Jesus.
Prossigo com Capriles: “A grande maioria das crianças que tinham a sorte de frequentar essas escolas recebia uma instrução não científica”. “Grupos progressistas, anteriores à Revolução de Outubro, lutaram durante muitas décadas pela criação de escolas públicas de ensino leigo”.
Creio que fechamos a crítica que se pode fazer, não só ao presidente Geisel, mas a todos os dirigentes nacionais, a exceção de Getúlio Vargas. Este estadista bem que tentou aplicar o “Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova”, de 1932, com 26 assinaturas dos mais notáveis educadores do Brasil à época: Anísio Teixeira, Delgado de Carvalho, Fernando de Azevedo, Hermes Lima, Lourenço Filho, Roquete Pinto entre eles.
Porém, como atenta René Capriles, a educação é parte basilar da doutrinação do poder. E não o faz para possibilitar qualquer transformação. Culpa do Geisel ou de uma sociedade acomodada?
Óbvio que a concentração de renda, que com Paulo Guedes atinge os maiores níveis de nossa história, que as desigualdades sociais e regionais impedem a construção do Brasil Soberano e Cidadão. Mas quem luta efetivamente para reverter esta situação? Aqueles que aplaudiram a entrega de nossos minérios, com a “venda da Vale do Rio Doce”? Os que apoiam a venda do petróleo brasileiro com o esfacelamento e alienação da Petrobras? Os que estão entregando a água e a energia hidrelétrica para os estrangeiros? Os que deixaram no exterior o controle estratégico para nossa independência que é a telecomunicação?
E sem nenhum argumento convincente, pois todas estas nossas empresas eram lucrativas e faziam do Brasil um país mais rico. Mera ideologia alienante. E ainda condenam uma inexistente esquerda revolucionária!
Então, fazendo eco com vendilhões da Pátria, clamam por uma utopia brasileira: a democracia. Como pode haver democracia na fome, na doença, na miséria, sem construir a cidadania brasileira? É um simples ritual macabro, obrigatório, de sacramentar aqueles que o poder já escolheu, uns para serem governo outros para oposição.
Foi diferente quando ardilosa e criminosamente impediram a eleição de Leonel Brizola em 1984 (Emenda Dante de Oliveira) e em 1989 (fraude na apuração dos votos em Minas Gerais)?
O Governo Geisel promoveu o desenvolvimento industrial, tecnológico e social do Brasil, dentro de sua visão conservadora e elitista. Avançou muito mais do que qualquer outro nos estratégicos campos da energia – nuclear, biomassa e petróleo no mar – da tecnologia da informação e na soberana condução da política externa no auge da guerra fria.
E criou a Funarte que levou a música popular brasileira a todos os rincões e publicou a mais importante coleção sobre o “folclore brasileiro”, organizado conforme as unidades da federação.
Não farei comparações, pois os tempos e as pressões foram diferentes, mas apenas Getúlio fez mais pelo Brasil, considerando os óbices a vencer. Certamente não fosse a traição das oposições, fantasiadas de esquerdistas, Leonel Brizola estaria neste panteão dos presidentes nacionalistas.
E pergunto a meus caros leitores: existe algum país que seja colônia? Pode ser incluído no rol das Nações Unidas? Que aliene seu poder decisório sobre as questões nacionais? Apenas como farsa. E é o que temos no Brasil, hoje, desde 1990, como ocorreu na República Velha, no Império e antes de 1822.
A maior prova que posso apresentar é o silêncio que recai sobre Geisel. Muitos livros compulsei para escrever esta série. Quase todos só tratam da repressão e da abertura política. Parece, e sei errôneo, que esta questão fora prioritária, porém não ocupou mais do que outras, como a energia nuclear, o rompimento do acordo militar com os Estados Unidos da América (EUA) e a Petrobras, a mente e o tempo do Presidente Geisel.
Ao fim do mandato, embora jamais reconhecesse, foi vítima da banca, que tomaria os governos dos EUA e do Reino Unido nos anos 1980. Também o Brasil, com Figueiredo, foi mais um dos que caíram sob o domínio do sistema financeiro internacional. E dele ainda não saímos.
Como derradeiro argumento, Geisel foi estatizante. Volto a Amaral Vieira nas críticas Crônicas dos Anos Geisel: “O estatismo, mesmo em um país que optou pela economia de mercado, se justifica como instrumento de desenvolvimento e bem-estar social, tanto mais imperioso quanto mais este país seja carente de capital autóctone, capital privado nacional, para financiar e auto sustentar esse desenvolvimento; o estatismo se impõe nos países subdesenvolvidos, como instrumento estratégico da economia nacional, promoção do interesse social que o privatismo não pode perseguir. Impõe-se também como fonte de modernização e investimento em setores não rentáveis e estratégicos, tanto do ponto de vista da segurança do Estado quanto como fonte de pesquisa e produção de tecnologia, que as multinacionais se recusam a transferir” (“Desestatização: biombo da desnacionalização?”, 16/6/1976).
E nos EUA, a energia hidrelétrica é estatal, operada pelas Forças Armadas.
Com informações Monitor Digital
[/pl_text]
[/pl_col]
[/pl_row]