Por Felipe Quintas
Qualquer adolescente, por mais inteligente que seja, terá dificuldade para ler Machado de Assis, pois ele aborda questões cuja complexidade transcende a maturidade e a vivência dos adolescentes. Para quem tem 13, 14, 15, 16 anos, não é fácil travar contato com considerações finas e sutis acerca dos tipos sociais do final do Império, da negatividade do tempo, do caráter trágico da existência e das tensões permanentes e universais entre a vida e a morte, a criação e o destino, a liberdade pessoal e os determinismos sociais etc.
Porém, é necessário que as escolas apresentem Machado para o público infanto-juvenil, para mostrar a ele o que há de melhor na cultura brasileira e universal, aguçar a curiosidade dele, introduzir tais discussões e aprimorar a capacidade cognitiva dos jovens para que, alguns poucos anos depois, eles já tenham plenas condições de se aprofundar na obra machadiana e ampliarem seu horizonte de pensamento e de perspectiva.
Não se trata, portanto, de dizer às crianças e adolescentes que Machado é difícil, mas que ele é complexo e que a escola está ali para ajudá-los a se elevarem ao nível do autor, para se tornarem seres humanos existencialmente mais ricos. Quando Felipe Neto diz que “ler Machado de Assis na escola” é um desserviço, ele faz o que é colocado e promovido para fazer: boçalizar a população infanto-juvenil brasileira e fabricar uma legião de mentecaptos sugestionáveis, incapazes de raciocinar e movidos apenas por gatilhos emocionais disparados por comandos simbólicos transmitidos pela mídia de massa.
Para piorar, Felipe Neto inclui Álvares de Azevedo no rol dos autores que não deveriam ser mostrados aos adolescentes. Álvares de Azevedo, ele mesmo um poeta adolescente, faleceu aos 20 anos de idade e seu ultrarromantismo, repleto de sarcasmo e erotismo, é um prato cheio para qualquer adolescente devidamente cultivado. Mas é claro que Felipe Neto não entende isso. Para ele, tudo o que não é cabelo colorido ou é difícil ou é fascismo.
Um país que debate “cultura séria” no twitter e tem como “vanguarda” uma verdadeira ralé existencial ao nível de Felipe Neto apenas verifica que está sim no fundo do poço, e cavando um pouco mais.
Ou essa new-left asquerosa sorosiana é destruída ou não haverá futuro, senão para alguns apaniguados, dentro de bolhas financeiras-sociais.
Perfeito, Felipe Quintas. Não apresentar Machado de Assis a adolescentes e aprofundar mais e mais a bocalizacao do brasileiro jovem e adulto. Evidente que sucessivas leituras nos períodos mais maduros irão cada vez mais enriquecer a percepção da obra deste grande escritor. Mas é necessário que ele seja apresentado logo com o devido destaque que sua obra merece. Concordo com sua rica análise. Obrigada