Desde a campanha para a eleição presidencial norte-americana, até os dias seguintes à invasão do Capitólio, restou evidente a parcialidade das empresas controladoras das grandes redes sociais, as chamadas “big techs”.
A predisposição para a censura de Trump por parte do Establishment que domina o país já tinha sido demonstrado antes, quando grandes redes de televisão dos Estados Unidos, tais como MSNBC, NBC, CNBC, CBS e ABC, em uma ação coordenada, interromperam simultaneamente a transmissão de uma entrevista coletiva de Trump, sob a acusação de o mesmo estar mentindo.
As “big techs” americanas escancararam ter caráter anticonservador, progressista e parcial ao, após os eventos ocorridos no dia 06 de janeiro de 2021 (Invasão do Capitólio), bloquearem unilateralmente as contas de Donald Trump e de um grande número de seus seguidores, num ato de censura explícita e de pretensão de controle da opinião pública por aquelas empresas.
Diante da ameaça real à já combalida (dita) democracia norte-americana, alguns governantes, de posições políticas diversas, se deram conta do verdadeiro patriciado privado que se formou nos EUA, e, atônitos, emitiram alertas.
Não por acaso, em março de 2020, Trump assinou uma ordem executiva que dizia: “Não podemos permitir que um número limitado de plataformas online escolha o discurso que os americanos podem acessar e transmitir na internet”.
Indo na mesma linha, “Vladimir Putin aprovou nesta quarta-feira (30) uma nova legislação que pode punir empresas estrangeiras de mídia social por discriminar os meios de comunicação do país”, assinando lei que permite bloquear o Facebook, Twitter e YouTube caso eles proíbam ou censurem a liberdade de expressão.
A Polônia também se pronunciou sobre a questão e, mais uma vez, deu o bom exemplo. “O ministro da Justiça Zbigniew Ziobro, anunciou um novo projeto de lei de liberdade de expressão online que vai passar a multar empresas de mídia social que censuram discurso legal. O PL proibirá as empresas de Big Tech de remover conteúdo ou bloquear contas se a publicação não violar a legislação polonesa.”
Já Mateusz Morawiecki, primeiro-ministro da Polônia, em sua conta do Facebook, afirmou que “A liberdade relacionada à falta de regulamentação da Internet tem muitos efeitos positivos. Mas eles também os negativos: grandes corporações transnacionais, mais ricas e mais poderosas do que muitos países, gradualmente começaram a dominá-lo. Essas empresas começaram a tratar nossa atividade online como uma fonte de lucro e fortalecer a dominação global e tratar o politicamente correto da maneira que eles querem. E lutam contra aqueles que se opõem a eles.” E continua o primeiro-ministro, “Quais visões são ou não corretas, não podem ser decididas por algoritmos ou proprietários de gigantes corporativos“.
Também do México virem bons pronunciamentos em relação ao superpoder das empresas “big techs”.
O presidente López Obrador teve uma postura crítica contra o Facebook e o Twitter, depois que as empresas de tecnologia decidiram bloquear Donald Trump e vários de seus seguidores, após a tomada do Capitólio por seus apoiadores, em 6 de janeiro. Disse ele: “As redes não devem ser usadas para incitar a violência e tudo mais, mas isso não pode ser motivo para suspender a liberdade de expressão, não deve ser usado como desculpa; a liberdade deve ser garantida, não a censura”. Obrador ainda declarou que “Não pode haver um determinado organismo em nenhuma nação de nenhum Estado, que se transforme em órgão de censura. A liberdade deve ser garantida. Se houver regulamentação, esta corresponde aos Estados nacionais. Não pode ficar nas mãos dos indivíduos”. E acrescentou: “Antecipo que na primeira reunião que tivermos do G20 farei uma declaração sobre este assunto“.
Mesmo a chanceler alemã Angela Merkel, de posturas pra lá de progressistas, afirmou que o poder de colocar eventuais restrições à livre expressão deveria ser restrito aos legisladores, não a empresas privadas. “O direito à liberdade de opinião é de importância fundamental. Em função disto, a chanceler considera problemático que as contas do presidente tenham sido suspensas permanentemente”, disse o porta-voz Steffen Seibert.
Já por aqui, de acordo com a imprensa, Jair Bolsonaro teria feito o seguinte e brando comentário sobre os bloqueios das contas de Trump: “Eu lamento o fechamento, a censura às mídias sociais“.
Como se vê, muitos países já se mostram cansados – e assustados – com o imenso poder particular que as “big techs” exercem hoje, acima dos governos e das nações. É necessário, pois, aproveitar o escancaramento da censura e da parcialidade das grandes redes sociais para lhes impor limites, nos moldes propostos pela Rússia e pela Polônia, para que não fiquemos à mercê de um punhado de pessoas que acreditam estar acima de tudo e de todos.
Publicado em Accale em 03.02.2021