Nesta segunda-feira, dia 21, Bolsonaro subiu o tom contra uma jornalista da Globo, ao lado da deputada federal Carla Zambelli. Questionado por participar de um evento sem máscara, Bolsonaro tirou a máscara e pôs-se a esbravejar contra a cobertura da emissora sobre as medidas de combate ao Covid-19 do governo federal. Confira no vídeo.
Nota-se que o presidente encontra-se pressionado: de um lado, enxerga a sua popularidade cair, ao manter a aposta na agenda de Paulo Guedes, a quem ainda delega a condução de sua política econômica, malgrado os aumentos dos preços dos alimentos, do petróleo e do gás – sem contar e iminência de uma crise hídrica, que pode fazer disparar o preço da energia. De outro, não pode deixar de notar uma mudança de alinhamento no cenário externo, identificando em Washington a fonte de denúncia contra seu ministro próximo, Ricardo Salles, do Meio-Ambiente, além da queda de outro aliado, Benjamin Netanyahu, em Israel.
Para quem não se lembra, o atual embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, anunciou aposentadoria aos 59 anos, abrindo espaço para mais ocupante do cargo, que assumiu em março do ano passado.
A Eletrobrás encaminha-se para tornar uma empresa “desestatizada”, ou seja, a União deve perder o controle de aproximadamente 60% das ações com direito a voto para algo em torno de 45%, no processo de vendas de novas ações da empresa pelo BNDES. Contudo, caberá ainda o controle estatal sobre a Itaipu Binacional (mantida junto com o Paraguai), que mantém nossa maior hidrelétrica, e a Eletronuclear, sinalizando que a intenção de finalizar a usina de Angra 3 e retomar o programa nuclear brasileiro, se possível com a construção de novas usinas.
No entanto, como sustentar um programa nuclear diante da pressão internacional que enfrenta? Além das acusações, anteriores à eclosão da pandemia, de negligência diante do desmatamento na Amazônia, atribui-se ao presidente a mortandade pela Covid-19 e também responsabilidade no “genocídio de povos indígenas”. Justamente a acusação feita no Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, feita pelo cacique Raoni, que pode virar processo na mão do novo Procurador-Geral do TPI, Karim Assad Khan, que recém assumiu o posto.
Criado nos anos 1990, após as sangrentas guerras civis na Iugoslávia e no continente africano, o TPI até agora só processo e julgou antigos líderes de lá, mas pode abrir uma exceção com Bolsonaro. Não custa lembrar que o Brasil aceitou a jurisdição deste tribunal no Governo Fernando Henrique, quando também assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear, que inviabilizou as pesquisas nucleares, assim como iniciou a primeira rodada de “desestatização” do setor elétrico, que Bolsonaro insiste em finalizar.
Cabe dizer aqui que, se o governo quiser ter alguma vontade de sobreviver e driblar os obstáculos, é necessário que faça um realinhamento de estratégia de inserção internacional, abandonando de vez os preceitos que nortearam sua política externa na época de Ernesto Araújo: para o governo, é Brics ou morte.