Por Felipe Quintas.
Na Conferência de Estocolmo, de 1972, voltada ao meio ambiente, o Brasil, cuja comitiva era chefiada pelo Ministro do Interior Costa Cavalcanti, não apenas se colocou ao lado como liderou o bloco dos países do Terceiro Mundo, inclusive socialistas, como China, Iugoslávia e Romênia, no rechaço às diretrizes ambientalistas e de controle de natalidade defendidas pelos EUA e Europa Ocidental – que, aliás, não as cumpriam dentro de casa. O Brasil, acertadamente, naquela ocasião, acusou a intenção dos países mais desenvolvidos de usarem o ambientalismo como uma forma de “chutar a escada” dos países em desenvolvimento e impedi-los de se desenvolverem.
Hoje, na reunião do G20, quando China, Rússia e Índia, nossos colegas de BRICS, trabalham para esvaziar a agenda climática dos EUA e da Europa ocidental – que tem o mesmo objetivo de 1972 – o ex-ministro Ricardo Salles, externalizando oficiosamente a visão do governo Bolsonaro, em vez de endossar esses países, utiliza suas redes sociais para atacá-los e, nas entrelinhas, cobrar dos EUA e Europa ocidental uma reação contra eles.
Depois os bolsonaristas fazem beicinho porque os EUA não chamam o Brasil para participar de reuniões sobre a Amazônia. Que os EUA são imperialistas e imorais, isso nem eles escondem. Mas, se o Brasil, no governo Bolsonaro, identifica plenamente seus interesses com os dos EUA – o que nunca havia ocorridos antes – então, onde os EUA se fizerem representar, a participação brasileira seria redundante e, por isso, dispensável. Se o governo brasileiro não tem objetivos, interesses e projetos, nenhum outro país terá pela gente.