Fugir da economia política será a estratégia eleitoral da centro-direita nessas eleições. Além do discurso lavajatista da corrupção, o discurso identitário (apropriado pela grande mídia) apresenta-se como mais um biombo para esconder as verdadeiras intenções neoliberais – os temas econômicos filtrados dessa vez pelo identitarismo.
Como nos revela esse verdadeiro conto distópico de Natal.
Uma mãe com seus quatro filhos estava passeando por um shopping na Zona Sul de São Paulo. Passaram em frente à decoração de Natal e foram convidados a tirar uma foto com o Papai Noel.
O Papai Noel chamou o filho de seis anos e perguntou o que queria ganhar de presente. “Um hoverboard [skate elétrico]”, respondeu. E o Papai Noel retrucou: “quanto seu pai ganha?… olha, esse presente não condiz com sua realidade”. E diante do desejo do filho mais velho de ganhar um celular, Papai Noel foi mais enfático: “não, esquece!”.
A notícia foi dada pelo telejornal local da Globo SP1, edição de 07/12/2021. Na primeira entrada da matéria, a manchete era: “Papai Noel traumatiza criança em Shopping”. Mas estranhamente a matéria foi abortada pelo apresentador. Para ser reapresentada em outro bloco, dessa vez com uma nova manchete: “Acusação de racismo em shopping”, num flagrante de mudança de viés da matéria.
Entra um representante da ONG chamada “Novos Herdeiros” e que denuncia: “Uma atitude racista, classista. Diretamente envolvendo o Papai Noel, que está inserido e que está sob a tutela do shopping Plaza Sul”.
Um verdadeiro conto distópico de Natal: um Papai Noel que fugiu do script mercadológico do bom velhinho e simplesmente contou a realidade para as crianças… Uma péssima hora para ser franco. Mas quem “traumatiza” primeiro as crianças: o Papai Noel distópico ou os pais que levam crianças para verem nas vitrinas dos shoppings coisas que não podem ter?
A questão da EXCLUSÃO SOCIAL num país de terceiro-mundo, sem indústrias e tecnologia produtiva, que não passa de fazenda de banqueiros – os mesmos que financiam a mídia que vende identitarismo – é disfarçada numa questão psicologista e individual de discriminação.
A exclusão é lida pelas lentes da classe social, da pobreza e do imperialismo, que impede o Brasil de se desenvolver para ser nada mais do que uma colônia de extração de matérias-primas baratas e pagador de juros de uma dívida que só cresce.
Já a discriminação é uma leitura rasteira da realidade baseada em questões psicológicas de “fulano não gosta de”, própria ao identitarismo de Wall Street e George Soros.
Com isso, a grande mídia oculta o perverso modelo econômico neoliberal de excluir grande parcela da população do desenvolvimento econômico de uma banana plantation. Se a maioria dos desempregados e desalentados são pretos, só pode ser por causa da discriminação racial de empresas e de racistas como esse Papai Noel que estereotipa pessoas como perdedoras e não da dura realidade de um país arrasado pelo neoliberalismo, com 60% da população desempregada ou informalizada, país sem condições produtivas e tecnológicas de oferecer algo a mais para o povo além de subemprego como Uber. Que gasta 50% do orçamento para rolar suas dívidas.
Por isso que a grande mídia e “Judge Moro” se apresentam como identitários, desde quando eram criancinhas