Por Felipe Quintas
Reza a lenda que um ministro chinês, em visita ao Brasil nos anos 2000, ao ser perguntado sobre o “segredo da China” para crescer, respondeu que a China estava fazendo o que o Brasil fazia nos anos 1970, e que não sabia por que o Brasil tinha parado de fazer. E não é que ele sabia mais do que a gente sobre o nosso próprio país? O caso da Telebrás (que Deus a tenha, porque a atual Telebrás é um fiapo do que era) é bem elucidativo:
“Desde a sua criação [em 1972], a Telebrás promoveu atividades de pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de criar as condições para a geração autóctone de tecnologia em produtos de telecomunicação. Constituiu um departamento próprio com essa finalidade, firmando contratos com universidades e indústrias para a formação de pessoal especializado. Em 1976, a empresa fundou o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Padre Roberto Landell de Moura (CPqD), definitivamente instalado em Campinas (SP) em 1980. O principal objetivo do centro era permitir que novos produtos ali concebidos, desenvolvidos e projetados fossem industrializados em padrões competitivos de qualidade e preço, reduzindo a dependência da tecnologia estrangeira.
“As próprias indústrias nacionais investiram bastante em pesquisa e desenvolvimento, estimuladas pela política industrial do Ministério das Comunicações durante o governo Geisel. As compras de equipamentos foram centralizadas pela Telebrás que procurou impor a nacionalização de componentes e o desenvolvimento de tecnologia local. A política de compras se pautou por uma divisão regional do mercado, pela qual os fabricantes puderam participar com quotas preestabelecidas e assim planejar suas linhas de produção. Algumas multinacionais concordaram em transferir e criar tecnologia no país em associação com empresas de capital brasileiro. A alemã Siemens e o grupo Hering formaram a Equitel; a sueca Ericsson e os grupos Monteiro Aranha e Atlântica-Boavista (mais tarde Bradesco) fundaram a Matel. A americana Standard Elétrica (ligada ao grupo ITT) desistiu de desenvolver tecnologia no país, sendo comprada pelo grupo Brasilinvest, que se associou à japonesa NEC.
“Entre os programas de alta tecnologia desenvolvidos pelo CPqD, merece destaque o de comutação eletrônica, responsável pela criação das centrais telefônicas digitais Trópico, comercializadas a partir de 1984. O centro também conseguiu o domínio da transmissão por fibras ópticas, repassando a partir de 1982 essa tecnologia de ponta para indústrias brasileiras. Produzida a partir do cristal de quartzo (cujas reservas mundiais são brasileiras em sua quase totalidade), a fibra óptica representou um avanço extraordinário para as telecomunicações em todo o mundo.“
Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/telebras