Por Ricardo Carvalho.
O Direito Público é mais autoritário, dado seu caráter unilateral, mas também oferece mais garantias. Essa é uma vantagem que tem sido sentida com mais veemência a cada dia, diante do totalitarismo das Big Techs e da reação desconcertada que provoca na direita libertária, sagazmente satirizada por aquele meme: “at least is not the government” (“pelo menos, não é o governo”).
O avanço dos governos sobre a nossa vida privada é, ao menos, limitado pela lei, e pode ser fiscalizado e retificado pelos cidadãos, por meio dos órgãos de controle e da representação parlamentar. O totalitarismo das Big Techs não é limitado nem fiscalizado por nada, exceto pelo próprio Estado. Ninguém quer saber se, ao aderir a uma rede social, você não leu o termo de contrato ou as letrinhas miúdas da política de privacidade. Aliás, não há sequer garantia de que o que ali consta é verdadeiro, como vimos nos sucessivos escândalos já ocorridos. E de pouco adiantará recorrer ao Judiciário depois que os seus dados pessoais sensíveis já tiverem sido arquivados, processados, comercializados sem o seu conhecimento.
Libertários podem reclamar à vontade, mas, nas atuais circunstâncias, só o que pode nos proteger do totalitarismo tecnológico e resguardar um mínimo da liberdade que eles tanto prezam é mais regulação, mais antitruste, mais Estado. O liberalismo radical que prospera no Brasil está morto no debate relevante e será motivo de piada em poucos anos.