Por Daniel Bispo.
Ao contrário de muitos colegas que pensam igual, fui um dos únicos trabalhistas a defender um diálogo de Ciro Gomes com o presidente Bolsonaro para eventual apoio em segundo turno. Não tenho medo de represálias e de ser cancelado.
Só tenho medo da minha consciência e de trair a minha inteligência. Defendi isso porque o bolsonarismo se mostrou muito mais simpático a nós que o petismo, que nos trata como pessoas desprovidas de humanidade e nos compara com assassinos, pedófilos e fascistas.
Também pela posição eleitoral, acredito que Bolsonaro estaria muito mais disposto a ceder em pontos de um eventual acordo do que o PT. Na verdade o PT não vai ceder em nada, ainda vai nos cobrar que nos humilhemos e peçamos desculpas por ter ousado os questionar.
Dito isso, defendi que o PDT propusesse ao presidente Bolsonaro a recriação do Ministério do Planejamento com Marconni ou Benevides de ministro. Além da promessa em documento de pacotes anticíclicos para construção de obras públicas.
Além disso, também defendi que a presidência do BNDES viesse para a mão dos trabalhistas. Se tivéssemos esse combo no governo (planejamento + BNDES), poderíamos fazer frente aos desmontes do Guedes na pasta concorrente.
Bolsonaro ia aceitar? Não sei. Nem chegamos a tentar. O PDT acreditou nas mentiras do PT e se sentiu culpado por ter traído o todo poderoso e supremo PT. Por isso, em menos de 72 horas já vai declarar apoio, sem nem negociar com qual lado teria mais vantagem.
Acho que o PT vai tentar dizimar o PDT de vez. O PT não pode ter outra dor de cabeça dessas como teve agora. Vão sugar quem presta do partido e lotear o partido de fisiológicos. O PDT na época do PT não diferia em nada de um PP da vida, mas agora é um partido mais coeso e ideológico
Vamos abrir mão de tudo isso para voltar a ser um partido do centrão que tem que se prostituir para conseguir sobreviver e a maior parte da militância (já agora em segundo turno) será roubada pelo PT. E, por favor, isso pra mim já é óbvio! Não gastem tempo me convencendo do contrário.
O PDT insubmisso ao PT fez 17 deputados e já é do tamanho do ex-gigante PSDB + Cidadania. O PSB, que não tem ideologia fixa, que escolheu se submeter ao PT, caiu de 30 deputados para 14. A rebeldia nem sempre é recompensada, mas a obediência sempre é punida!
O PT já prometeu privatizar a Caixa, tal qual como tinha prometido privatizar a Eletrobras. Bolsonaro flerta com a privatização da Petrobras. Ambos são contra a materialidade brasileira. A diferença é que o PT já era assim quando foi visto com desconfiança pelo sistema
Imagine agora que tem apoio direto do rentismo e da Embaixada dos EUA, além do óbvio apoio dos europeus. Sem falar que materialidade a gente recupera, mas o nosso espírito brasileiro só existe um e o PT ataca dia após dia dizendo que nossos símbolos, heróis e mitos são fascistas.
Por tudo isso, defendi uma conversa entre os Trabalhistas e o bolsonarismo no segundo turno, NEM QUE FOSSE PARA AUMENTAR NOSSO PODER DE BARGANHA PARA COM O PT. Além do mais, como já falei que o PT vai tentar nos destruir e estamos muito anêmicos para nos proteger, acredito que o bolsonarismo seria o local ideal para termos proteção dos algozes petistas no curto prazo. Se lá pessoas como o Collor e o Roberto Jefferson conseguem apoio, nós faríamos a festa. Sem falar que eles sempre se mostraram mais leais e gentis.
Porém, falei tudo isso e defendi todos esses pontos até agora. Apesar de eu não estar no PDT em registro, meu coração e meu cérebro são trabalhistas e eu considero o PDT como legítimo herdeiro dessa tradição política. Também sou a favor do centralismo democrático, tanto na visão leninista como na visão peronista. Sendo assim, se o PDT vai apoiar criticamente o PT no segundo turno, não vou mais constranger a tradição do meu coração. Optaram pelo suicídio, lamento… Mas eu optei antes pelo Trabalhismo.
Por isso que aqui se encerra minhas críticas públicas a posição do partido no segundo turno. Apoiem quem quiser, só não sejam tão cruéis com nossa tradição e lembrem-se: o Trabalhismo tem 100 anos. Os próximos 100 dependem de você e da sua insubmissão. Apoiem quem quiser, mas sempre apoiem o Trabalhismo.
A partir de agora, com posição pública e documental do partido, não peço mais voto nulo nem no Bolsonaro. Mas só estou fazendo isso exclusivamente pelo meu respeito ao partido, jamais por empatia a esses totalitários petistas.
Obrigado!
“Agora, ninguém venha para o PDT pensando que vai fazer desse partido um instrumento para projeto pessoal”, afirmou Carlos Lupi, em 2004, apenas uma semana após a morte de Leonel Brizola. E completou: “muitos pedetistas e brizolistas estão preparados para resistir a qualquer cidadão que tente se apossar do PDT com oportunismo”. Pois bem, o partido estava sim preparado contra projeto pessoais… dos outros (Garotinho, talvez), uma vez que àquela altura o sultão já tinha se apossado de seu trono… e da estrutura partidária.
Sabendo disso, podemos entender a decisão do PDT (ou melhor, de Carlos Lupi, o dono do partido), que, aliás, não foi tomada agora depois do primeiro turno, basta observar a excessiva tolerância de sua absolutista direção com todo tipo de aceno ao Lula antes do pleito (vide o comportamento de Salabert em Minas ou de Rodrigo Neves no Rio, por exemplo). Todavia, durante o anúncio de adesão à “frente ampla democrática”, o “cacique”, foi taxativo sobre qualquer questionamento a esta adesão “unânime”: “QUEM ESTÁ EM DÚVIDA, ESTÁ NO PARTIDO ERRADO”.
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Quanto à sua ideia: achei bastante interessante e mais de acordo com o perfil do eleitorado restante de Ciro Gomes. Todavia, em troca do apoio de um enfraquecido PDT, não acho realista acreditar que fosse possível essa confrontação, por parte do governo, ao Paulo Guedes. Já estaria de ótimo tamanho, a ocupação do recentemente recriado Ministério do Trabalho e da Previdência (com liberdade para elaborar um projeto de regulamentação dos trabalhadores por aplicativo, algo consensual no partido e já cogitado até pelo Onyx Lorenzoni) e o compromisso para não privatização da Petrobrás.
Porém, a mediocridade e o oportunismo das lideranças partidárias (não só do PDT) impedem qualquer tentativa nesse sentido e todas suas preocupações giram em torno dos “cabides de emprego”, é a famosa turma da boquinha tão bem descrita pelo Rubão quando diz que toda essa grita é por Brasília (e seus cargos) e não pelo Brasil e sua gente.