
Por Arthur Rizzi.
A tese do metacapitalismo tem dois níveis, o individual e o geopolítico.
A nível individual ele é uma falácia histórica, pois o capitalismo surgiu já com a dominação política do mercado pelo Estado, pois foi o Estado o responsável pela criação do mercado. Foi o Estado moderno a instituição responsável pela destruição das lealdades locais, dos órgãos políticos representantivos locais e pela destruição das corporações de ofício. Ou seja, já havia uma classe politicamente interessada na destruição de uma sociedade baseada num modo de produção servil, e cuja alocação de recursos era feita não com base em vantagens comparativas e livre comércio, mas sim em protecionismo e desenvolvimento das artes.
Ora, como todos sabemos o metacapitalismo é apenas a descrição do Estado liberal burguês como ele sempre foi, você não precisa ser um hispanista tradicionalista para entender isso, até o marxista mais vulgar sabe disso. Os Estados Unidos tem em sua origem como Estado não uma massa amorfa de cidadãos comuns, proletários, mas senhores de escravos e grandes proprietários; a discussão sobre liberdade na carta constitucional está sobretudo aliada a ideia de propriedade.
Criar a categoria metacapitalismo para definir o aspecto de classe do Estado liberal cria um Capitalismo a-histórico, no qual a forma verdadeira do capitalismo onde o Estado não teria nenhuma relação com a economia e as classes dirigentes não teriam nenhuma relação com a riqueza material, seria o verdadeiro capitalismo. No entanto, como tal verdadeiro capitalismo jamais existiu e não pode ser verificado historicamente em lugar nenhum do mundo, não passa, portanto, de falácia do escocês de verdade.
A nível geopolítico e geoeconômico, nada mais é que um negativo de foto da tese da escada do Ha-Joon Chang e da Teoria da Dependência de caráter estruturalista.
1- Ninguém, nenhum país ou empresário fica rico no livre-mercado, a não ser que tenha de gerações passadas algum acúmulo de capital que esteja ligada as vantagens comparativas do país.
2- As vantagens comparativas mais fáceis de serem construídas são nos setores cujo retorno da produtividade é constante devido a baixa capital-intensividade.
3- Os setores mais influentes internacionalmente sobre as economias são o setor financeiro e o industrial.
4- Esses setores nunca são construídos com livre-mercado, mas com protecionismo. Quem sai na frente se consolida numa posição de vantagem.
5- Esses setores são sofisticados e muito capital-intensivos, agregam muito capital humano e tem produtividade crescente em escala.
6- Esses são setores cujo valor agregado dos bens e serviços produzem margens de lucro gigantescas.
7- Portanto, a tese de que esses capitalistas enriquecem com livre-mercado e depois viram metacapitalistas, promovendo o socialismo, é objetivamente falsa.
O apoio a esquerda por parte deles pode ser satisfatoriamente explicado com coisas muito mais simples, como por exemplo, imobilizar os braços dos partidos de esquerda em relação a pauta nacionalista e relacionadas ao trabalho, para fazer com que partidos de esquerda se foquem em bandeiras woke ao invés de lutar por melhores salários, melhores condições de trabalho, maior tributação sobre as grandes fortunas, o que para eles é ótimo. Ou seja, na prática a tese do metacapitalismo é um negativo da teoria da dependência estruturalista. O livro “Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica“, do economista sul-coreano Ha-Joon Chang, é muito bom sobre isso.
Os países ricos chutam a escada do desenvolvimentismo depois de enriquecerem.