Nesta semana da independência, que se iniciou em sete de setembro, tivemos mais movimentações do Poder Judiciário contra políticos influentes e pessoas a ele vinculadas. O que pode se tornar mais frequente dada a proximidade das eleições municipais.
Terça-feira, dia oito, Eduardo Paes tornou-se réu e teve um mandado de busca e apreensão em sua residência, por denúncia do Ministério Público do RJ, por ordem do Juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da Justiça Eleitoral. Paes está sendo acusado pelos crimes de corrupção, falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro. A acusação foi feita com base em denúncia de que teria obtido vantagens da Odebrecht em mais de R$ 10 milhões, durante sua campanha para reeleição à Prefeitura do Rio em 2012. Ou seja, oito anos atrás.
Quarta-feira, dia nove, foi a vez da Lava Jato, por ordens do juiz federal Marcelo Bretas, decretar mandados de busca e apreensão para mais de vinte advogados, incluindo Frederico Wassef, que já representou ninguém menos que Jair Bolsonaro, Cristiano Zanin, advogado de Lula, e Ana Teresa Basílio, representante do governador afastado Witzel. As medidas estariam fundamentadas em desvios do Sistema S, que engloba SENAI, SENAC etc., para escritórios de advocacia do Rio e de São Paulo.
A Lava Jato, enfraquecida no Governo Bolsonaro, luta para se manter em evidência com medidas como esta. O Rio de Janeiro, epicentro da operação desde o início, continua como alvo. Eduardo Paes lidera as pesquisas para a Prefeitura do Rio, tendo em vista a baixa popularidade o Prefeito Crivella, que recentemente teve um pedido de impeachment arquivado pela Câmara Municipal. No entanto, Witzel segue afastado, e o candidato vinculado ao bolsonarismo, Otoni de Paula, vislumbra um espaço maior na corrida à prefeitura.
Paes tornou-se réu um dia depois do pedido de desfiliação do Cabo Daciolo do Partido Liberal. Este abriu espaço ao ex-candidato à presidência Daciolo no início do ano prometendo-lhe apoio à sua candidatura para o pleito deste ano, mas o mesmo partido deixou o cabo ver navios ao costurar apoio a Paes. Daciolo pode comemorar a denúncia, mas ficou de fora da disputa com a qual contava como possível azarão.
Por sua vez, Otoni de Paula, do PSC, a mesma legenda de Witzel e do governador em exercício Cláudio Castro, foi visto no Pará, dando apoio a candidatos locais. Curiosamente, há o burburinho que o Governo do Pará, na figura do Governador Helder Barbalho, pode ter destino semelhante a Witzel, com base nos supostos desvios na Saúde de recursos destinados ao combate à pandemia.
Uma coincidência…. ou não, como diria Caetano Veloso: o juiz Flávio Itabaiana é o mesmo juiz que expediu a ordem de prisão de Fabrício Queiroz. O mesmo que foi acusado pelo senador Flávio Bolsonaro de agir por “motivação política”, com a alegação de que a filha do juiz Itabaiana teria sido nomeada para um cargo na Casa Civil do governo Witzel, em abril de 2019. Como de fato foi.
Consta que há mais de cem anos, a população do Rio de Janeiro assistiu bestializada ao golpe que instalou a República e derrubou o Império. Hoje, assistem desde o início da Lava Jato, o desmonte da indústria do petróleo e naval baseada no Estado do RJ. Em meio à perplexidade da massa, Executivo Federal e Judiciário movem suas peças no tabuleiro. Muito provavelmente longe do interesse público.