O Governo Bolsonaro é o resultado de um fenômeno de negação cíclica, do organismo vivo que se transformou o Brasil, isso não é uma teoria, e sim uma constatação científica, o Estado é um sistema e um organismo vivo, que não tem cara e nem tem cor, é um somatório de ações e resultados de um grupo confuso e não coeso que apresenta um resultado palpável através da observação estatística.
Em condições normais de pressão e temperatura, um candidato como Bolsonaro não se elegeria a nada ou a coisa nenhuma: ele é a tríade Burrice-Arrogância-Prepotência, o seu discurso é monossilábico, vazio, repetitivo, e quando analisado friamente não apresenta conteúdo algum.
Bolsonaro não tem capacidade de manobra, não tem capacidade de observação, não tem capacidade de enxergar o óbvio, e em todos os confrontos com a ordem política que se apresenta, ele usa sua rede de influenciadores e seus conluios com o Judiciário ou parte dele, “estratégia” essa que se flagrou derrotada e humilhada em resultados. Podemos ver como o exemplo máximo as eleições municipais de 2020, em que pese o seu tão propagado apoio popular pelos institutos de Pesquisas de Opinião(opinião do contratante da pesquisa): o resultado dos seus candidatos foi catastrófico e seus números pífios. Isto em comparação, por acaso, ao seu maior inimigo do momento, aquele que ele escolheu como inimigo preferencial, processo esse que facilitou a vida dos seus adversários, e de todos eles o que melhor se aproveitou disso foi o João Dória, o político bissexto espertalhão que fez fortuna através do expediente político de artimanhas e de maracutaias. Porém de forma inegável temos que ver o abismo que existe de inteligência acadêmica prática e emocional entre os dois, um verdadeiro genocídio.
Só, para constar, o fenômeno que elegeu o Bolsonaro é um somatório de condições especiais que eu lancei há mais de dois anos e que foi copiado por todos, que é a “Síndrome Dos 29 Anos”, um ciclo absolutamente perfeito de repetição de cenários que cria essa condição especial, em que esse organismo vivo chamado sociedade brasileira é submetido às mesmas condições, e esses candidatos excêntricos aparecem, apesar dos seus discursos vazios, ocupando esse mesmo nicho, mas que sua história pregressa não corrobora o personagem político criado. O detalhe é que essas condições levam a um total desencanto ético e moral da sociedade
Foi assim com Jânio Quadros, que já era visto por muitos como corrupto e demagogo, porém conseguiu se eleger em cima de um discurso moralista anticorrupção e pro família.
Exatamente 29 anos depois, com a saída de um regime de exceção, o povo foi submetido ao mesmo processo de procurar um boneco, em que não importando o seu passado, o importante seria que o mesmo representaria naquele momento específico. “Bingo”: aparece o grande herói, o caçador de marajás, o implacável e incorruptível, o grande inimigo dos comunistas comedores de criancinhas, em que o mais importante é lutar contra esse comunismo que é uma figura etérea que nenhum Brasileiro médio consegue explicar, mas adora combater, e, mesmo assim, com seu passado altamente suspeito consegue se eleger como “Presidente Mito”.
Para fechar o caixão e concluir a tese, que só não vira um best-seller sociológico porque foi criado por um simples técnico mecânico, esse grande mito aparece nos exatos 29 anos depois na figuras risível e patética, quase caricatas como a de Bolsonaro, levando fácil a eleição presidencial e repetindo sem nenhuma criatividade o mesmo modelo viciado.
Todos esses presidentes, também sofreram outro fenômeno semelhante que foi o estreitamento radical do tempo dos seus mandatos, e Bolsonaro não está livre disso: a sua obtusidade política, a sua arrogância, a sua incapacidade de enxergar a realidade, são apenas a repetição sistemática de todos os erros de seus antecessores, de sempre não ter uma assessoria competente o suficiente para mostrar o abismo completo, a queda livre para nós brasileiros, que fica com a tragédia de ter o principal herdeiro dessa cagada alguém da estirpe moral de João Dória, atual Governador de São Paulo, alguém infinitamente mais perigoso do que o próprio Bolsonaro.
Deste modo, segue o Brasil ladeira abaixo, a primeira vez que o fenômeno se apresentou, o mesmo descambou em poucos anos para um regime de exceção, que no fim das contas, não se mostrou tão ruim assim. Na segunda vez em que o mesmo fenômeno se apresentou, nós brasileiros oramos pela a queda do Presidente Collor, queda esta, que nos entregou, de corpo e alma, ao Neoliberalismo, que, em nenhum momento, foi incomodado pelos governos ditos de esquerda, que na pratica redundaram na continuidade pacífica de todo o processo de espoliação nacional.
O pós-Bolsonaro parece ser o quadro mais grave após esse “fenômeno dos 29 anos”: sairemos piores e mais fracos, mais debilitados em relação ao mercado internacional, e entregues a um grupo capaz de realizar com rara eficiência, o entreguismo já comprovado o que Jair Bolsonaro não conseguiu, com suas piadas toscas, aparições mambembes e declarações deploráveis.
Segue o jogo…