Por Raphael Machado
É incrível como as pessoas têm dificuldade de compreensão e interpretação.
O Papa Francisco comentou algo simples: que é lamentável que as pessoas troquem a possibilidade de ter filhos pela criação de animais domésticos.
Ele não está criticando quem tem animais domésticos. Ele está, especificamente e objetivamente, criticando quem troca uma coisa pela outra. Não está criticando nem mesmo quem ainda não tem filhos, mas pretende ter, mas quem NÃO quer ter filhos e por isso projeta sentimentos filiais em animais.
Agora, naturalmente, isso não vem do nada.
A lógica de ter filhos envolve toda uma corrente de instituições e crenças.
O homem na sociedade tradicional tem filhos porque seus filhos são braços que ajudam em seu labor. Ademais, na sociedade tradicional, se considera que a perpetuação de uma linhagem é uma maneira de eternizar a si mesmo, afinal cabe aos descendentes recordar os antepassados (nem que apenas no Dia de Finados). Ainda, entende-se que os filhos serão o suporte dos pais, os netos dos avós. Ter filhos é uma das vias de se realizar.
Agora, na sociedade contemporânea, quem se importa com qualquer dessas coisas?
Não existe emprego pra ninguém e ninguém segue uma vocação familiar. Não há no que os filhos possam ajudar os pais em termos de trabalho. Ninguém liga muito para linhagem. Ninguém se sente um elo em uma cadeia milenar. Ninguém sente o peso dos olhos, das esperanças e dos feitos de centenas de gerações. Quando se menciona antepassados, a maioria das pessoas simplesmente dá de ombros, como se não fosse com elas. Ninguém pensa em procriar para dar continuidade a alguma ancestralidade familiar, étnica, racial, etc. E todo mundo mora sozinho em cubículos. Ninguém se suporta. Família, hoje, é algo opcional. É um agregado de pessoas de quem você gosta naquele momento.
Tudo isso nega o bônus da paternidade/maternidade. Resta só o ônus financeiro. E em uma sociedade materialista isso é tudo que importa. Ter filho dá trabalho, é caro e é um porre. Fim. O resto é obscurantismo fascista, machista, feudal e patriarcal.
A cultura e a economia contemporâneas fazem com que ter filhos faça tão sentido quanto criar um porquinho da índia. E como na modernidade tudo é nivelado na quantidade, ter filho é mais caro.
Eis o “x” da questão.