Em entrevista concedida para o Clube de Jovens Jornalistas do Irã, o analista político Andre Korybko, autor da célebre obra “Guerras híbridas: das revoluções coloridas aos golpes”, fala sobre como os Estados Unidos têm empreendido táticas de Guerra Híbrida para desestabilizar o Irã, o papel das redes sociais nesse processo e as medidas que vêm sendo tomadas pelo regime iraniano para se proteger desses ataques – muitas das quais coincidem com o conceito de “Segurança Democrática” formulado por Korybko.
Cabe mencionar que os pontos levantados pelo analista podem muito bem servir de referência para a segurança nacional do Brasil, uma vez que desde junho de 2013, quando passamos por nossa “Revolução Colorida”, somos alvo de um processo permanente de desestabilização política.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
1) Qual é a definição de guerra híbrida? Quais são seus principais componentes? E qual é o propósito desse tipo de guerra?
A Guerra Híbrida tem muitas definições, mas a versão em que me especializo é a transição em fases das “Revoluções Coloridas” (movimentos de protesto armados) para a “Guerra Não-Convencional” (terrorismo) para fins de ajustes de regime (concessões unilaterais), mudança de regime (autoexplicativo) ou reinicialização do regime (reforma constitucional radical que pode buscar, em última análise, dividir internamente o país como no processo bósnio). Ele utiliza uma combinação de guerra de informação, sanções econômicas e pressão militar. O objetivo é coagir o estado-alvo a fazer o que os agressores desejam, o que varia de acordo com o cenário específico.
2) Como as administrações anteriores e atuais dos EUA e outros países (desde a revolução iraniana de 1978) travaram uma guerra híbrida contra a República Islâmica do Irã?
A Guerra Híbrida liderada pelos EUA contra o Irã também envolve Israel e a Arábia Saudita. Consiste em sanções, pressão militar regional, apoio a movimentos terroristas dentro do Irã e guerra de informação destinada a incitar movimentos de protesto armados e corroer os valores tradicionais conservadores do país. A resposta do Irã tem sido priorizar seus serviços de inteligência militar para combater ameaças não convencionais, desenvolvimentos técnico-militares, como seu programa de mísseis, para criar dissuasão crível diante de ameaças convencionais e reunir a população em torno de ideais patrióticos. Seu conceito de “Economia de Resistência” também foi bem-sucedido em ajudar a gerenciar as consequências econômicas da guerra de sanções ilegais e unilaterais dos EUA.
3) Qual é o papel da mídia contrarrevolucionária iraniana no apoio a essa Guerra Híbrida? E qual é o papel do ciberespaço?
As plataformas de informação online, especialmente as mídias sociais, são partes integrantes da Guerra Híbrida contemporânea contra o Irã. Elas são exploradas para se infiltrar clandestinamente na sociedade, recrutar agentes, incitar a população e espalhar fake news sobre o país. Esses meios se tornaram mais importantes à medida que o mundo se torna cada vez mais dependente dessas plataformas. O acesso a algumas delas pode ter que ser restringido aos iranianos por motivos de segurança nacional, enquanto outros podem ser regulamentados conforme necessário.
4) O que devemos fazer para enfrentar e controlar a Guerra Híbrida?
O conceito de “Segurança Democrática” com que venho trabalhando nos últimos anos consiste em táticas e estratégias criativas contra a Guerra Híbrida. O Irã já está aplicando muitas delas, como, por exemplo, a organização de comícios patrióticos e a promoção de ideais patrióticos em toda a sociedade. A aplicação desse conceito visa combater de forma decisiva as ameaças não-convencionais sempre que estas surgem e faz também um bom trabalho ao impedi-las de maneiras preventiva. No entanto, o Irã se beneficiaria se compartilhasse experiências relacionadas a esses eventos com seus parceiros russos e chineses, que também possuem conhecimentos semelhantes nesse campo, embora em circunstâncias diferentes e específicas de suas situações nacionais.
5) Quais são os pontos fortes e fracos da República Islâmica do Irã a esse respeito?
Os pontos fortes do Irã são sua população majoritariamente patriótica, sua resiliência histórica aos esquemas de Guerra Híbrida liderados pelos EUA e seus serviços de inteligência militar muito fortes. Os pontos fracos do país são econômicos e sociais, este último, no sentido de que sua população majoritariamente jovem pode possuir ideais diferentes das gerações mais velhas. Um segmento desses jovens também deseja utilizar as mídias sociais da mesma forma que outros jovens fazem em outras partes do mundo, mas não estão totalmente cientes das ameaças perniciosas que existem nessas plataformas. Portanto, cabe às autoridades conceber a melhor política de “Segurança Democrática” que se adapte de forma flexível às mudanças nas circunstâncias conforme necessário e seja capaz de reagir a todos os cenários. A orientação russa e chinesa pode desempenhar um papel importante na formulação de tal política.
Fonte: One World