Por Carlos Alberto Sanches
Uma nação é resultado de seus contrastes, de suas rivalidades internas, de suas guerras civis. Ela não pode desprestigiar nenhum dos lados dos confrontos que marcaram sua história. Zumbi dos Palmares foi morto pelos cabos de guerra de Domingos Jorge Velho.
A estratégia dos movimentos identitários e antinacionalistas extrai sua eficácia do sentimento de que devemos “escolher um lado”: o do “opressor” (vitorioso) ou do “oprimido” (derrotado). Sentimo-nos obrigados a escolher o lado do escravo, negro, ou o lado do bandeirante branco ou mestiço.
Isto é falso. Um povo só consegue assumir as rédeas de seu destino se fizer as pazes com seu passado; ele precisa estabelecer a paz póstuma entre aqueles que, em vida, eram inimigos de morte. Pouca importância tem, no fim das contas, a intenção consciente dos agentes históricos, pois através de juras de ódio eterno, colaboraram na mesma obra. É preciso reconhecer o heroísmo de ambas as partes, sempre, e selar esta paz, não colocar o vencedor no banco dos réus, perpetuando a cadeia de vinganças ad aeternum.
O panteão nacional é onde inimigos dão-se as mãos. Mas isto é pura falácia (e loucura!) para os que estão viciados no paradigma da luta de classes, da luta de raças e da luta de gêneros. São os vingadores dos mortos.
O desejo de vingança de todas as gerações subjugadas mortas oprime como pesadelo o cérebro dos derrotados vivos. E a política se tornou isso: uma arena onde se disputa o direito de se vingar.