A Índia assinou um contrato de 10 anos com o Irã para desenvolver e operar o porto iraniano de Chabahar, anunciou o governo indiano.
O Porto de Chabahar tem importância estratégica para a Índia: serve como um elo crucial para a conexão com o Afeganistão, a Ásia Central e a região mais ampla da Eurásia.
Por meio do acordo assinado ontem entre Índia e Irã, há planos em andamento para integrar o Porto de Chabahar ao Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul (INSTC), facilitando o comércio entre a Índia, a Rússia e outros países, passando pelo Irã e – possivelmente – o Azerbaijão.
Isso permitirá que a Índia contorne o Paquistão e estabeleça acesso direto ao Afeganistão e, por fim, à Ásia Central. Inimigo histórico da Índia, o Paquistão bloqueia o acesso da economia com maior crescimento econômico do mundo à sua fronteira norte – composta pelo país vizinho e pela barreira do Himalaia.
A principal vantagem desse corredor por Chandahar é a redução do tempo de entrega de mercadorias em duas a três vezes, aumentando ainda mais a competitividade dos produtos indianos nesse mercado e aumentando o potencial de melhor escoamento da produção de petróleo e gás da Rússia e demais países da Ásia Central ao mercado indiano.
De olho no negócio, um dos porta-vozes do Departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, não exclui a possibilidade de empresas indianas serem sancionadas por participar em negócios com o Irã. “Qualquer entidade, qualquer pessoa que esteja considerando fazer negócios com o Irã, precisa estar ciente dos possíveis riscos aos quais está se expondo e do possível risco de sanções”, disse Patel em audiência no Congresso dos EUA.
Historicamente, a Índia foi uma das líderes do Movimento dos Países Não Alinhados e manteve por toda Guerra Fria uma posição de distanciamento entre o conflito. Domina oficialmente a tecnologia militar para fabricação de armas nucleares desde a década de 1970, sem perder o respeito dos EUA e do restante do Ocidente, que se aproxima da Índia tendo em vista a rivalidade com a China. Mesmo com os EUA mantendo forte presença no Paquistão.
Se a cooperação indiano-iraniana avançar, será um teste para ver até onde vai a ameaça dos EUA em sancionar entidades envolvidas em negócios com o Irã. Se os EUA não abrem mão de hostilizar a China e a Rússia, uma abertura de conflito com a Índia não faria mais do que acelerar a emergência de um mundo multipolar.