Por Felipe Quintas
Um dobre de finados pela classe média semi-ilustrada e falida que aderiu fanaticamente ao quarentenismo no início do ano passado por pensar que tudo se resolveria em dois meses de sofá, pipoca e Netflix, que levariam, inclusive, ao impeachment do Bolsonaro e à condenação dele em Haia.
Frustrada e desiludida, atochada no home office ou mesmo no desemprego absoluto, em contas impagáveis e debaixo de três máscaras cirúrgicas, assiste melancolicamente aos ricaços lavando a égua com bolsa de valores e exportação de commodities e aos pobres ganhando ou na expectativa de ganhar um auxílio emergencial para gastarem na igreja, na birosca informal da favela e no baile funk (que nunca fecharam nem fecharão, ao contrário dos espaços frequentados pela classe média).
A classe média falida não se dá nem o direito a expressar sua indignação, pois o medo de ser chamada de “negacionista”, rótulo diuturnamente reforçado na mídia corporativa por seus ídolos de barro (Miriam Leitão, Mandetta, Átila Tamarindo, Miguel “DARPA” Nicolelis, Merkel etc.), lhe é tão assustador quanto o cenário de mais um ano de confinamento e restrições, mesmo com vacinas, máscaras e tudo mais.
Falida, sim, mas limpinha e de “reputação ilibada”, para não queimar o filme com a Europa e ter sua entrada aceita no velho e decrépito continente quando, quem sabe um dia, eles voltarem a abrir as portas para os turistas de fora – se ela terá dinheiro para voltar a frequentar aquelas bandas é outra história que ela nem pensa, afinal, viajar e mesmo emigrar para a Europa foi banalizado como um fato da natureza, um direito divino.
Que triste decadência da classe média, dos “filhos (e netos) da revolução”, em extinção rápida, silenciosa e patética, se esvaindo em lágrimas no escuro e escondendo o desgosto com três máscaras no rosto.