
O ilustre estudioso das revoluções coloridas Andrew Korybko, ao comentar a eleição de Lula para um terceiro mandato, advertiu que forças que comporão o futuro governo alinhadas ao Partido Democrata dos EUA, inclusive dentro do próprio PT, poderão agir como elemento de desestabilização do governo que tomará posse no próximo dia 01 de janeiro.
Em entrevista ao Sputnik, o autor de “Guerras Híbridas – das revoluções coloridas aos golpes” afirmou que estas correntes são “ideologicamente motivadas a perseguir objetivos que contradizem o seu programa original soberanista e socialista”.
Ainda que um especialista no entendimento dos métodos de desestabilização de governos pela máquina dos EUA durante os últimos quinze anos, Korybko erra um pouco o foco ao falar do PT, pois há tempos o partido deixou de lado políticas socialistas ou trabalhistas, tornando-se cada vez mais parecido com o atual Partido Democrata dos EUA.


Nem bem iniciaram-se os trabalhos do governo de transição e surgem pressões de grupos identitários por representação de minorias nos postos-chave e nos futuros ministérios. Apesar de anunciar Sônia Guajajara no inédito Ministério dos Povos Originários (o nome politicamente correto para o que se convencionou chamar de “povos indígenas”), crescem as queixas contra a composição dos principais quadros: a maioria de homens brancos – assim como o próprio presidente Lula.
E isso porque o governo nem começou e os protestos pelos resultados das eleições mal estão arrefecendo. O futuro governo faz promessas soberanistas de recuperar o investimento público e realizar obras de infraestrutura em cooperação com os governos estaduais, mas ainda está fresca na memória os embates dos anos Dilma, quando o governo mal conseguiu contornar a onda de protestos pela construção da Usina de Belo Monte, que terminou mutilada e funcionando abaixo da relação custo/benefício. Assim sendo, cabe perguntar qual seria o papel de indivíduos ligados às ONGs, possivelmente no tal novo ministério dos indígenas, em sabotar iniciativas como a Ferrogrão, que está parada por ordem de Alexandre de Moraes, a pedido de uma representação do PSOL, partido que comporá a base de governo?
Iniciativas que Lula indica tomar como a desvinculação dos preços de combustíveis da Petrobrás ao preço de paridade internacional (PPI) são louváveis, mas todo o esforço desenvolvimentista pode ir por água abaixo se o governo não buscar articulação com os setores produtivos, na indústria e no agronegócio, e se isolar junto aos defensores radicais da Agenda ESG. Se em 2003 Lula tinha o já falecido industrial e crítico da política de juros José Alencar na vice-presidência, hoje Lula se vê afastado desses setores, tendo em vista o apoio destes ao bolsonarismo, sobretudo o agronegócio.
Lula sempre foi um negociador, mas sabe quais foram as condições que lhe foram impostas para sair em liberdade e recuperar seus direitos políticos.
Foto da capa: Ricardo Stuckert/PT