
O órgão da República Federal da Alemanha responsável pelas exportações confirmou a proibição da exportação pelo Brasil de 28 tanques Guarani para a Filipinas. Como possuem peças e sistemas alemães, este país pode bloquear a seu bel prazer que o Brasil exporte veículos militares com essa tecnologia. O motivo: os Estados Unidos pediu, a Alemanha obedeceu e o Brasil pagou o pato, pela recusa em enviar armas à Ucrânia.
A venda dos tanques vinha sendo negociada desde 2017 e envolvia até 114 unidades do Guarani, em três etapas do pacote. Além desses, o Brasil negociava a venda de mais 150 unidades para a Argentina, que podem ser embargadas se a Alemanha (os Estados Unidos) acharem conveniente. Eles são produzidos na fábrica da Iveco em Sete Lagoas, MG.
Curiosamente, o anúncio do embargo coincide com a votação, na Assembleia Geral da ONU, de uma resolução condenando a anexação das províncias ucranianas (Donetsk, Lugansk, Zaporozhie e Kherson) e até a Crimeia pela Rússia. A resolução pede “a saída imediata da Rússia” dessas regiões e o Brasil votou a favor dela, diferentemente dos outros membros dos BRICS, que se abstiveram na votação. Pelo visto, para os países da OTAN, o agrado de hoje não foi suficiente.
Incidentes como esse expõem os perigos da dependência industrial tecnológica, sobretudo no setor militar, e colocam a necessidade de se desenvolver uma indústria autônoma de tecnologias aplicadas em armamentos. Sobretudo agora em que os países da OTAN banalizam cada vez mais os instrumentos de sanções, que machucam cada vez menos a Rússia, com ampla autonomia neste setor, mas cada vez mais países com menos autonomia tecnológica e não estejam 100 % alinhados com o atlantismo. A despeito das várias concessões que o Governo Lula tem feito à condenação da Rússia, sob pressão estadunidense.
O Brasil que já teve uma indústria de tanques desenvolvida durante a década de 1980, sofreria com a nacionalização total do setor, tendo em vista a presença de capital estrangeiro no setor (a Iveco faz parte do Grupo FIAT). Nesse sentido, o desenvolvimento de tecnologia própria poderia ser fomentado por meios de parcerias com países não alinhados à OTAN, sobretudo os membros dos BRICS.